No passado dia 29 de Maio, celebrou-se mais uma passagem do dia internacional do geógrafo e como se tem vindo a fazer ultimamente, esta data não passou despercebida ao menos na capital do país, tendo se realizado uma palestra na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM com o seguinte tema: “Integração Regional: A questão dos movimentos migratórios”.
Viu-se a necessidade de se comemorar esta data como forma de fazer conhecer a existência deste dia à sociedade no geral e aos geógrafos particularmente, para além de ser imprescindível na divulgação do papel do geógrafo para a interpretação do espaço que o rodeia, análise da distribuição da população, da expansão urbana e sua influência no ordenamento do território, análise e interpretação dos fenómenos naturais e sua influência sobre a população animal e vegetal, entre outros.
O que tem se verificado é que existe uma grande dificuldade de se perceber o contributo que o geógrafo pode dar a sociedade. A geografia pela sua natureza e característica, se insere em quase todas as áreas de conhecimento (Ex. Biologia, Geologia, Cartografia, Agronomia, Oceanografia, etc.), sendo assim, qual é o papel especifico da geografia? Que contributo o geógrafo pode dar à sociedade sem legitimar as actividades concernentes a outras disciplinas do saber? O que é que faz da geografia diferente das áreas acima citadas, embora trabalhe concomitantemente com elas? Afinal de contas o que é a geografia e qual é o seu objectivo?
Esta questão não é recente e não preocupa apenas os moçambicanos, verifica-se em todas as sociedades, embora já tenha passado por uma fase mais critica que a actual, pois foi muito debatida entre as décadas 60 à 80, ganhando uma orientação para a geografia programática. Milton Santos na sua obra “ Espaço e Sociedade” de 1979; fala das dificuldades vividas por estudantes universitários brasileiros em termos de aplicabilidade da ciência e enquadramento dos mesmos no mercado de trabalho.
A história da geografia é basicamente uma colecção de pensamentos inerentes à relação Homem-Meio, na busca da compreensão do mundo. Entretanto, segundo Alexandre e Diogo (“Didáctica da Geografia- Contributos para educação no ambiente”, 1990), a geografia sempre se assumiu como uma ciência una e unida; pois se formos a analisar, na antiguidade clássica, a geografia dos gregos que abrangia o Cosmos e a organização humana tinha a sua identidade nítida embora ainda não estivesse bem aprofundada. O que se verificou na visão de thiesen (A crise da geografia como ciência,2008) foi que a partir de um certo momento da história, correntes de pensamento como a de Vidal de la Blache, criador do possibilismo e do regionalismo, influenciaram esta ciência possibilitando a formação de”esferas de conhecimento” podemos assim dizer, e de diversos grupos que se dedicavam ao estudo de uma parte da grande esfera geográfica. E à medida que estas pequenas esferas aprofundavam seus conhecimentos legitimando-se como ciência, elas foram afastadas da esfera da geografia levando com elas aspectos que compunham a geografia, como a geologia, ecologia, oceanografia, etc. Ou seja, a mãe geografia, foi perdendo seus filhos que ganharam maturidade e se firmaram com identidade própria, deixando-a fracturada e tornando-a na mais interdisciplinar das ciências.
Entretanto, apesar desse dilema e dos paradigmas se terem alterado, é importante realçar que mais do que os contributos conceptuais e metodológicos das correntes surgidas, verifica-se a permanência de certos elementos que caracterizam a geografia. Estes elementos, segundo Alexandre e Diogo,(1990) encontramos na obra cientifica de Humboldt e Ritter em que os mesmos se concentram a volta do que se designa problemas-chave da geografia e constituem os grandes objectivos gerais da disciplina. São eles: O estudo da diferenciação do espaço e o estudo das relações do Homem com o meio. O contexto de cada época irá condicionar a melhor forma de os ver e resolver.
Para finalizar, embora se tenham formado fracturas e lacunas na esfera da geografia, é possível criar um processo de raciocínio geográfico que vai ilustrar o principio de análise em geografia, determinando a sua identidade e originalidade. Num exemplo dos mesmos autores sobre a análise organizativa do espaço, teríamos as seguintes fases: Identificação de uma dimensão espacial, Estudo das causas de determinadas formas de organização espacial e Identificação de áreas em que os padrões de localização são diferentes.
Este exemplo demonstra apenas que nenhuma outra ciência se preocupa em conhecer em simultâneo, aspectos tão diversificados como: a distribuição dos fenómenos implicando a sua localização rigorosa; o conhecimento de suas variações e heterogeneidade sobre a superfície e o porquê das causas quer da localização quer da variação espacial.
Portanto, a Geografia mãe, não alterou os seus princípios que a identificam e a autenticam, apesar das diversas “ramificações” surgidas ao longo dos anos.